ATA DA TRIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 10.09.1992.

 


Aos dez dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e no­venta e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Sétima Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e dezoito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a en­tregar o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Nivaldo Filipetto Gatti, concedido através do Projeto de Resolução nº 18/92 (Processo nº 947/92), de autoria do Vereador Cyro Martini. A seguir, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presen­tes. Compuseram a Mesa: Vereador Cyro Martini, no exercício da Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor Nivaldo Filipetto Gatti, Homenageado; Senhora Valentina Gatti, esposa do Homenageado; Jornalista Luís Carlos Machado Lisboa, representando o Prefeito Municipal; Senhor Altair de Lemos, Cônsul do Peru; Senhora Jandira de Lemos, Consulesa do Peru; Senhor Milton dos Santos Martins, Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; e o Vereador Omar Ferri, Secretário “ad hoc”. Em continuidade o Senhor Presidente convidou a todos para ouvirem, de pé, o Hino Nacional. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Omar Ferri, em nome da Bancada do PDT, saudou os presentes e disse que o comum nesta Casa era o proponente falar em nome do seu partido político, mas que laços antigos de amizade o ligavam ao Homenageado. Falou sobre a profissão do Senhor Nivaldo Gatti, médico, que lutou para construir um hospital para atender a coletividade. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PDS, disse que o Senhor Nivaldo Gatti nasceu numa grande cida­de (Porto Alegre) e esta Cidade o escolheu como Cidadão Emérito. Falou que os amigos, presentes nesta Sessão Solene, conhecem os méritos do Homenageado não sendo necessário citá-los. Disse que o Homenageado no passou só momentos bons na vida mas que foram superados graças ao apoio recebido por seus familiares. O Vereador Cyro Martini, proponente e em nome das Bancadas do PMDB e PTB, disse que o Senhor Nivaldo Gatti era um profissio­nal da Medicina, que honrava com todas as letras, com todos os mandamentos o juramento de Hipócrates. Disse que o Homenageado deixou uma obra para a coletividade, o Hospital Vila Nova, on­de prestou um bem social. Falou que a saúde era um problema seríssimo, especialmente para as camadas mais necessitadas da nossa coletividade, amenizado graças ao trabalho desenvolvido pe­lo Doutor Gatti. Após, o Senhor Presidente convidou os presen­tes para assistirem, de pé, a entrega do Diploma ao Homenagea­do pelos Vereadores João Dib e Omar Ferri. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Homenageado que relembrou fa­tos ocorridos em sua vida que o fizeram escolher a profissão de médico. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quinze minutos, convocando os Senhores Ve­readores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Cyro Martini e João Dib e secretariados pelo Vereador Omar Ferri, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Omar Ferri, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Nivaldo Filipetto Gatti.

É com muita honra que sou o proponente desta Sessão Solene e estou presidindo os trabalhos.

Convidamos para fazer parte da Mesa o nosso homenageado, Dr. Nivaldo Filipetto Gatti e sua esposa, Sra. Valentina Gatti; o Ilmo. Sr. Representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, Jornalista Luís Carlos Machado Lisboa; o Exmo. Sr. Cônsul do Peru, Dr. Altair de Lemos e sua esposa, Sra. Jandira de Lemos; o Exmo. Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. Milton dos Santos Martins; o Ilmo. Sr. Petersen Mariane da Rocha.

Convidamos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(O Hino Nacional é executado.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, pelo PDT, o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: Exmo. Sr. Presidente desta Sessão Solene; Ilmo. Sr. Nivaldo Gatti e Senhora Valentina Gatti; Ilmo. Sr. Representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, Jornalista Luís Carlos Machado Lisboa; Exmo. Cônsul do Peru, Dr. Altair de Lemos e esposa Jandira de Lemos; Exmo. Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do RS, Dr. Milton dos Santos Martins. Na maioria das vezes nesta Casa, quando ocorre uma Sessão Solene para homenagear uma pessoa ilustre de nossa Cidade, quem fala pela Bancada do Ver. proponente é o próprio Vereador. No caso o Ver. Cyro Martini deveria falar não apenas como proponente desta justa homenagem, como falar também em nome da Bancada do PDT. Mas, entendi de abrir um parênteses, entendi de vir a esta tribuna homenagear o Dr. Nivaldo Gatti em nome do Partido, em nome do PDT, em meu nome pessoal, face aos antigos e profundos laços de amizade que me ligam à família do Dr. Nivaldo e da minha prezada e querida amiga Valentina Gatti. Ainda me lembro faz tanto tempo, na década de 50 por aí, eu estudava direito e a Valentina estudava letras; nós nos conhecemos na faculdade e ficamos muito amigos, convivemos por alguns anos no mesmo prédio de velha PUC, naquela época Praça D. Sebastião n° 02, não me lembro bem, aqui em Porto Alegre. E, tive o prazer de mais tarde ser apresentado ao Dr. Nivaldo, que se formou em medicina no mesmo ano em que me formei em direito, e como todo o estudante que se formava naquela época, procurava logo uma Cidade do interior do Estado para lá iniciar as suas atividades, quer seja de médico, engenheiro ou de advogado. Eu fui para Encantado, e fiquei de 1955, pois para lá me transladei antes de formar, até 1962. Fui para Brasília no tempo do governo João Goulart de lá fui expurgado, e vim para Porto Alegre, o Dr. Gatti também, ele se formou e foi para Criciumal, foi para Três de Maio e, um acontecimento comum em nossas vidas, também teve problemas com a "redentora" de 1964. E quis o destino que ambos viéssemos para a Cidade de Porto Alegre. Eu atuando na minha atividade profissional de advogado; o Dr. Gatti emprestando todo o seu ideal, a sua força de trabalho, a sua visão de médico, vindo aqui e comprando uma área enorme num dos bairros de Porto Alegre, Bairro Vila Nova e lá instalando um hospital. Construindo possivelmente tijolo a tijolo, com grande esforço e sacrifício de ter amealhado cotidianamente, dia por dia, semana por semana, mês por mês, amealhando algum dinheiro para que pudesse, ele, juntamente com outros médicos construir aquilo que deveria ser ideal da vida dele, já que era médico ele construía o edifício da medicina para atender a enorme clientela que iria surgir. Só que um detalhe fugiu da compreensão do Dr. Gatti, como esse detalhe fugiu da compreensão de todos nós o golpe que nos puniu, ao mesmo tempo ia, aos poucos, determinando dificuldades de vida de toda a espécie. E um hospital construído com tanto esforço e sacrifício, passou a atender um público generalizado, numa atividade e num desempenho de interesse social, de caráter excepcional, não teve do Governo a compreensão, não teve, digamos assim, a contrapartida, para que ele funcionasse de acordo com as previsões, com o ideal de médico. E hoje o hospital serve mais para objetivos de solidariedade humana, sem a compensação financeira - eu diria sem quase nenhuma compensação financeira. Mas está lá atuando porque ele plantou, quando construiu aquele edifício, a própria força do seu ideal. Está lá para servir à população, está lá para servir à comunidade, está lá para servir o Município de Porto Alegre.

Então, o Dr. Nivaldo Gatti é um dos construtores do progresso social e científico de uma Cidade.

E para quem passa lá pela Vila Nova, muitas vezes passa em frente do Hospital, imagina que seja um hospital pequeno. Mas quem começa a caminhar pelos dois ou três andares, por todos os corredores, por um prédio enorme, dá para se ter a idéia exata do resultado do esforço de um homem que viveu seu ideal de médico e que construiu a Casa de Medicina para servir o seu Município, a sua Cidade e, principalmente, a sua comunidade.

Eu quero elogiar profundamente o Ver. Cyro Martini, se há alguém que mereça um Título de Cidadão de Porto Alegre, é o Dr. Nivaldo Gatti.

Os Srs. Vereadores podem dizer da satisfação de terem votado - isto deve ser em homenagem ao Ver. Cyro Martini que em tão boa hora veio propor a outorga de Título, para esta Casa que às vezes concede até com muita felicidade. Esta vez acertou porque concedeu este Título de Cidadão de Porto Alegre a quem realmente merece.

Por isso Dr. Gatti, por isso Valentina, demais familiares que estão aqui presentes, recebam o meu caloroso e afetuoso abraço, recebam o aplauso do meu Partido, o PDT, que através da minha pessoa veio trazer sua solidariedade, sua louvação e o seu elogio pelo seu trabalho, pela sua luta, por todos os sacrifícios que o Senhor passou, mas que pode chegar e dizer, hoje, eu venci e construí alguma coisa em benefício de alguém. Poucos homens podem dizer isto.

Parabéns pelo Título que esta Casa, por unanimidade, lhe concedeu! Muito obrigado. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Dando seqüência à nossa Sessão Solene, ouviremos agora o Ver. João Dib, que falará pela Bancada do PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo. Sr. Ver. Cyro Martini, que preside esta Sessão Solene; meu caro Jornalista Luís Carlos Lisboa, representado S. Exa. o Sr. Prefeito Municipal; meus queridos amigos, Cônsul do Peru, Altair de Lemos e sua esposa Jandira de Lemos; Exmo. Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. Milton dos Santos Martins; queridos homenageados Dr. Nivaldo Filipetto Gatti e Sra. Valentina Gatti; meus Senhores e minhas Senhoras.

Eu ouvi que uma das razões de satisfação e felicidade de um homem é nascer em uma grande Cidade, e o nosso homenageado de hoje, Dr. Nivaldo Filipetto Gatti, nasceu numa grande Cidade, nasceu na maior Cidade do mundo, nasceu em Porto Alegre. Mas essa Cidade hoje lhe dá uma satisfação maior ainda, essa Cidade hoje, lhe diz pelo seus 33 representantes, que ele é um Cidadão Emérito. Isso é alguma coisa de notável, alguma coisa de sublime e que há de fazer, por certo, e sem dúvida nenhuma, crescer a felicidade na alma deste homem extremamente sensível, e do qual eu não vou dizer dos seus méritos, porque os que aqui estão são seus amigos, e sabem tanto ou mais do que eu. A vida pública, algumas vezes, me colocou frente a frente com o Dr. Gatti buscando alguma solução para aquele hospital, mas os Senhores por mais tempo acompanharam a vida dele e sabem que o Ver. Cyro Martini com muito acerto, com muita felicidade, lhe outorgou, propôs a outorga do Título e a Câmara, por unanimidade, aprovou. O que quer dizer, hoje, Dr. Nivaldo, este Título de Cidadão Emérito, principalmente num momento em que o grande perigo da humanidade é o cansaço dos bons? Quero dizer que a Câmara de Porto Alegre representando o povo desta Cidade em que o Senhor nasceu, e muitos Vereadores não nasceram, está lhe dizendo que o Sr. é bom e está lhe dizendo, também, que nós não esperamos que o Sr. faça mais. Mas, nós temos absoluta certeza de que o Sr. fará mais. Mas também não haverá de ser tão difícil para o Dr. Nivaldo fazer mais por esta Cidade, e se os Senhores notaram quando eu falei nos nossos homenageados de hoje, na realidade o Dr. Nivaldo está recebendo o título, mas é claro que a nossa professora Valentina tem muito deste título, porque não se consegue nada sem que haja o apoio da família. Então, Valentina, André Luiz, Fernando, Luiz Fernando, Jaqueline também estão recebendo o título de Cidadão Emérito. Como colocou bem o Ver. Omar Ferri, o nosso Nivaldo não passou apenas bons momentos na sua vida, teve momentos extremamente difíceis, mas estes momentos eram superados, porque chegava em Casa, lá estava com valentia a Valentina dizendo: vai porque eu e os teus filhos estamos ao teu lado e te apoiamos. E além disso, agora, tem o apoio dos amigos que aqui estão para lhe dizer que a Cidade espera mais, o Senhor tem força para tanto, porque os seus amigos, os seus familiares estão aí lhe dizendo: nós te apoiamos, segue o teu caminho dando muito de ti para esta Cidade, que hoje te diz que és emérito! Saúde. (Palmas.) Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido o Ver. João Dib para assumir  Presidência.

 

(É feita a troca da Presidência.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Dib): Com a palavra o proponente, Ver. Cyro Martini, em nome do PMDB e PTB.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Ver. João Dib presidindo, neste momento, a Mesa, a direção dos trabalhos, nosso caro homenageado, Dr. Nivaldo Filipetto Gatti, sua distinta esposa Valentina Gatti; Ilmo. Sr. representante do Prefeito Municipal, jornalista Luís Carlos Machado Lisboa; Exmo. Sr. Cônsul do Peru, Dr. Altair Lemos e sua distinta esposa, Jacira de Lemos; Exmo. Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do RS, Dr. Milton dos Santos Martins; demais autoridades presentes nesta oportunidade; Srs. Vereadores, minhas Senhoras, meus Senhores. Para nós é, sem dúvida um momento de alegria e honradez. Pelas palavras dos que nos antecederam, dos Vereadores Omar Ferri, João Dib, nós temos a oportunidade de verificar que nós estamos diante de um cidadão, de um profissional que, sem dúvida, prestigia esta Casa ao ser homenageado com o título de Cidadão Emérito. Por isso, nós temos que deixar bem marcado essa honra que eu tenho, que esta Casa e os seus Vereadores, sem dúvida, têm. O Dr. Gatti é um profissional da Medicina que, sem dúvida, honra com todas as letras, com todos os mandamentos, o juramento de Hipócrates. Só por este fato, pelo cumprimento denotado do dever, do exercício da Medicina, onde ele com apuro técnico desenvolve-a com todo o carinho e com toda a honradez, só por este fato ele já merecia ser reconhecido, ser notado como Cidadão Porto-Alegrense. Mas a sua atividade, o seu desempenho como profissional da Medicina mostram que ele vai muito mais longe do que o juramento de Hipócrates, do que o juramento de seu dever. Lá está o seu trabalho lapidado ao longo da sua vida onde no exercício público da Medicina também pôs, ali, o seu empenho, hoje já, inclusive, aposentado da função pública como médico. Lá, no interior do Estado, aqui na capital, ele esteve sempre atento no cumprimento do seu dever como médico e servidor público. Mas, não foi apenas por este rumo que a sua vida se mostra como exemplar, como modelar. Lá, na construção daquela obra notável do Hospital Vila Nova, não apenas pelo hospital, mas pelo que ele deixou lá para as pessoas da região e para todos os porto-alegrenses e todos os sul-rio-grandenses, quando ele colocou à disposição da Previdência Pública o seu hospital. Então, vejam que nós não estamos lidando com alguém que apenas procura tirar proveito pecuniário da sua profissão. Não, é alguém que procura desempenhá-la com gosto, com satisfação, com a prestação de um bem social ao doar essa capacidade e o seu esforço como administrador em favor da coletividade, em favor do bem alheio.

A saúde é um problema seriíssimo especialmente para as camadas mais necessitadas da nossa coletividade. Nós temos em Porto Alegre nada menos do que quatrocentas mil pessoas vivendo nessas vilas humildes, nessas vilas onde a carência é de toda ordem, onde a necessidade é de toda sorte, especialmente a que diz respeito aos problemas de saúde, de saúde do corpo, da saúde dentária. São problemas que a gente vê e sofre. O Vereador vê isso de perto, ele lida com esses problemas bem de perto, até porque as pessoas vão procurá-lo na sua casa e a gente quando vê alguém que não se dedica apenas com propósitos de lucro, de vantagens, mas que dá o seu esforço, doa o seu patrimônio para que a sorte daqueles necessitados seja melhorada, pelo menos no campo da saúde. E, sempre que alguém como o Dr. Gatti se dedica ao próximo, nós temos que reconhecer. Por isso é que, realmente, tiveram razão os Vereadores João Dib e Omar Ferri quando destacaram a personalidade, a natureza e o valor do trabalho do Doutor Gatti. E eu fico extremamente honrado por ter sido o porta-voz daquele que encaminhou a proposta aprovada por unanimidade desta Casa em favor da declaração da cidadania emérita do Doutor Gatti.

Mas como disse, e disse muito bem o Ver. João Dib e também o Ver. Omar Ferri, quando nós somos um cidadão que tem uma obra como tem o Doutor Gatti, que tem alguma coisa de bem, de grande valor feito em favor do semelhante e em favor da sociedade, tenho certeza absoluta, não sou eu que diz, é a história, há por trás uma pessoa, uma mulher dando força, amparando, empurrando, ajudando, e ali sem dúvida está a Dona Valentina Gatti para ajudar nesta empreitada, que é difícil. Tenho certeza, quando se lida com a coisa pública, com a sociedade, com o próximo, esse trabalho é difícil, delicado e por isso nós temos, também, que destacar a esposa, os filhos, a família, porque eles é que sustentam naquelas horas difíceis, naquelas horas amargas, naqueles momentos de desalento que levam, que levantam, que impulsionam, que pegam a bandeira e põe de volta na mão para que o combate, a luta continue. E nós temos, também, que destacar a professora. É interessante assinalar que quando nós temos uma esposa, como tem o Dr. Gatti, a professora Valentina que o ajuda, nós temos, também que ver que ela é uma pessoa que merece também o nosso reconhecimento. Ela é uma das construtoras da educação porto-alegrense, quando ela foi uma das que fundou o Inácio Montanha, aquela escola que está lá próxima ao Hospital Ernesto Dorneles, do Palácio da Polícia, então a nossa homenagem também à Professora Valentina Gatti. Fica aqui, consignado, por conseguinte, o nosso reconhecimento, a nossa gratidão ao mérito do trabalho do Dr. Gatti. Meus parabéns ao Dr. Gatti e agradeço a ele por ter aceito esta modesta e humilde da Câmara Municipal de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido os Vereadores João Dib e Omar Ferri para que procedam à entrega do Diploma de Cidadão Emérito ao nosso homenageado.

(É feita a entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em continuidade à nossa Sessão Solene, ouviremos agora a manifestação do nosso homenageado, Dr. Nivaldo Filipetto Gatti.

 

O SR. NIVALDO FILIPETTO GATTI: Exmo. Sr. Presidente da Mesa, Ver. Cyro Martini; Ilmo. Sr. Representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Jornalista Luís Carlos Lisboa; Exmo. Sr. Altair de Lemos. Cônsul do Peru; Exmo. Desembargador Milton Martins; Exmos. Srs. Vereadores aqui presentes, em particular o Ver. João Dib; minhas Senhoras, meus senhores, meus amigos.

Agradeço em meu nome, de minha mulher e meus filhos, a honraria que hoje me concedeis, lembro entre surpreso e distinguido uma passagem das cortes da França: É que aqui chegando, a acolhida recebida desta Casa, tão grande e emocionante conduziu-me até Bonaparte, no primeiro império; onde era de etiqueta, abrir-se de par em par a porta dos salões do palácio, quando se tratava de receber à uma das grandes figuras da nobreza, porém se se tratava de figura de outra ordem, só se abria uma das bandas da porta.

Para mim, figura simples de médico e filhos desta Cidade a honraria concedida, abrindo as portas do Município é por demais generosa e a recebo, vendo e sentindo, que não só, estão abertas as portas desta Casa, mas também, um caminho para tornar-me um imortal na galeria desta Cidade.

A todos os senhores nossa gratidão.

Remonto, ao meu período de infância, menino da Cidade Baixa de Porto Alegre, transitando pelas ruas do bairro aonde hoje lá presente ainda, à rua da Concórdia, Olaria, rua da Margem, Venezianos, Ilhota, Ponte de Pedras, testemunhas de um tempo.

No tempo, vejo-me jovem, sob grande amoreira no pátio de minha casa; era ali que ao crepúsculo gostava de ficar e pensar.

Atraía-me no entanto, e aguçava minha curiosidade, um encanecido e velho vizinho, que em local contíguo ao meu, escrevia uma série interminável de papéis.

Informei-me deste trabalho; a resposta e o conhecimento veio rápido, era um médium espírita que psicografava receitas.

Antigo mestre em colégio de Porto Alegre, agora na aposentadoria, gastava o tempo minorando o sofrimento daqueles que a ele recorriam.

A curiosidade, transformou-se em amizade e com este velho amigo e conselheiro, travei conhecimento com a lógica, e filosofia de Allan Kardek.

Como, já era meu cerne, minorar o sofrimento dos alheios aprendi de cedo a gostar, amar e desejar, ser médico.

Concluí meu curso na faculdade de medicina de Porto Alegre em 1957 e trinta e cinco anos após minha formatura, recebo esta homenagem que sem dúvida está ligada a alguma causa de minha vida; no caso, a existência do Hospital Vila Nova, obra, que realizamos conjuntamente com outras pessoas e que hoje já está incorporada ao patrimônio da Cidade, e que à ela, deve pertencer.

Localizado este hospital em zona altamente povoada na zona sul de Porto Alegre, vem realizando um trabalho imenso, comunitário, apesar do momento difícil, angustiante porque passa a medicina hospitalar dos nossos dias.

É dotado de 265 leitos equipados para os serviços de clínica e cirurgia com UTI, RX, laboratório e ambulatório servindo como um pronto socorro na zona sul de Porto Alegre, sem receber dotação ou subvenção governamental de espécie alguma, a não ser credenciamento pelo INANPS e IPE.

Diariamente, lá trabalham, 296 funcionários, 72 médicos, que atendem a várias especialidades.

Como vemos, não é obra isolada, à ela estão ligadas todas essas pessoas, umas graduadas, outras humildes, todas importantes e a quem deve ser creditado o mérito desta homenagem e do feito.

A medicina atualmente, para mim é muito difícil, não falo sobre o exercício da profissão no sentido estrito, mas em seu entrelaçamento no controle social.

Um homem, acostumado e habituado a certo caminho, não saberia mudá-lo, logo que venha tempos que não se enquadram mais com sua maneira de ser, é fatal que ele sofra ao procurar nova adaptação.

É o que vemos em nossa medicina, está difícil tratar o doente; já estão a nos condicionar tratar a doença.

E à isso, devemos reagir e nos contrapor.

O médico ainda hoje, além do conhecimento moderno da profissão, deve ter três requisitos básicos para continuar a ser médico: fé, amor e vida interior.

A fé no homem é um sentimento inato dos seus destinos futuros; qual outro destino e sentimento do médico se não o de curar, deve ser ainda: empolgante, contagiosa, sem ela, não poderá o médico transmitir o fluido da cura, não pode exercer o dom e o mister de sua arte.

Não deve ser confundida com a fé religiosa; pois falo de outra fé isto é, a força interior que pode realizar o prodígio da cura.

Sem amor, não se exerce a profissão de médico, é preciso transmitir esta chama ao doente, e amar profundamente aquilo que se faz.

O amor de médico é a expressão mais completa da caridade por quê, resume todos os deveres para com o próximo, sem amor não há médico nem sua arte.

Por último quero falar da vida interior, sentimento muito particular das pessoas, de convívio íntimo, de meditação, que permite a prática do bem, afastando do seu coração o orgulho e a vaidade.

A vida interior conduz ao desprendimento condição essencial para o exercício da profissão de médico.

Falo isto, porque após 35 anos de profissão, tenho cerne de médico e com ele devo morrer, e quero, que meus filhos e os filhos de meus filhos até onde possam, tomem conhecimento deste ato de profissão e fé.

Quero dar conhecimento aos presentes, como são oportunas minhas palavras, pois lembro, que em Congresso Mundial de hospitais no ano de 1979, na Cidade de Zágreb Youguslavia, assisti, a conferência de um professor de universidade americana falar sobre o médico do futuro.

Curioso, fui ter com a nova realidade, pensando tratar-se do emprego de uma completa parafernália de instrumentos para tratar o doente.

Porém senhores: estava se propugnado lá, o retorno ao médico de família, ao clínico amigo, aquele que toma conhecimento da condição pessoal do enfermo, aquele que enfim escuta, dialoga.

É esse médico, previdente e sincero que precisamos ter hoje à cabeceira do doente; não só para ministrar o remédio que está em suas mãos e nas farmácias senão também para minorar os males do sentimento que a ele afligem.

Não existem doenças, existem doentes.

Preocupado com os rumos atuais de nossa medicina, e sabendo como é inexorável, porém útil, a municipalização da saúde, quero alertar aos políticos que tratam deste tema.

É desejo da sociedade, ter um sistema público de saúde de boa qualidade, com a participação de todos; inclusive da iniciativa privada.

Remuneração condigna para todos os profissionais da saúde.

É necessário entender os progressos da medicina, suas conquistas, seus benefícios a todas as pessoas indistintamente.

De nada adiantariam tanto progresso se a ele não tiverem acesso todas as camadas da população especialmente as mais pobres e sabemos como isso ainda está longe, e, como é difícil.

Basta sentir o dia a dia da medicina, acompanhar a realidade presente para saber, que ainda estamos longe de atingir a meta, medicina uma conquista social e um benefício de todos.

Exorto a todos os médicos, lutarem por esta conquista, pois se assim não o fizermos, seremos simples tijolos de Babel amontoados na planície.

Em cima o céu imenso e mudo e em torno a solidão.

Nessa ocasião, quero prestar um agradecimento ao Vereador Cyro Martini, a ele, devo a iniciativa de concessão do título honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre; tornou-me um imortal.

Em todos os tempos, podemos dividir os homens e suas obras em três grupos distintos: o dos que falam de si próprios; o dos que se aproveitam de sua história para falar dos contemporâneos e o dos que a utilizam para repetir o que os contemporâneos disseram de sua pessoa.

É então oportuno que se fale sobre o Vereador Cyro Martini e sua obra, para se ter lição de coragem e audácia.

Nascido no Bairro Belém Novo, cedo fixou residência no Bairro Santo Antônio, moradia de seus avós.

Fez seus estudos em vários colégios da capital; formando-se em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Funcionário policial desde 1961, galgou todos os degraus da carreira, sendo hoje Delegado da quarta classe, atualmente inativo.

Serviu em várias comunidades do interior: Rio Grande, Osório, São Jerônimo, Vacaria; em todos, sempre além de função policial exerceu o magistério.

De volta a Porto Alegre, lecionou no Colégio Júlio de Castilhos, Academia de Polícia e Colégio Estadual Inácio Montanha.

Elegeu-se Vereador pela primeira vez em 1988 e desde essa época vem mantendo aberto comitê no Bairro Partenon.

Nesse mister, é assessorado por sua mulher Sra. Alice Correia da Silva, que lhe dá todo o suporte necessário para o atendimento público.

É Vereador atuante, tendo em seu curriculum, várias leis aprovadas e outras tantas em tramitação.

É autor da lei municipal que autoriza a divulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente; bem como do Código ao Consumidor.

Tem especial inclinação pela área de trânsito e transporte; sendo ex- membro do Conselho Estadual de Trânsito, criou o Conselho Municipal de Trânsito de Porto Alegre, ajudando sua implantação.

É de sua lavra; projeto que incluiu a educação de trânsito nas escolas municipais.

Fez disciplinar placas de sinalização que próximas às escolas devem ter leras grandes e aumentadas, facilitando sua visão pelos motoristas.

Grande incentivador do esporte amador nos bairros da Cidade, colabora em muito com o lazer e educação dos jovens, permitindo além do aprimoramento físico a criação de hábitos salutares: oportuniza a máxima Mens sans in corpore sano.

Sua preocupação com o Bairro Partenon, o levou propugnar, pela sua ampliação, no sentido leste da Cidade.

Esta medida, possibilitou a inclusão no Bairro Partenon de várias vilas que estavam em território de ninguém, isto é, vilas próximas ao Bairro Agronomia.

É também de sua autoria, a Lei Municipal, tombando e incorporando ao patrimônio histórico da Cidade, o prédio do antigo grupo escolar Appeles Porto Alegre, situado na Av. Bento Gonçalves com Luis de Camões.

A recuperação deste local e do prédio, estará possibilitando criar-se nesta zona, mais um espaço cultural, com salas de leitura, lazer, vídeo e biblioteca.

A vida de um homem, não deve ser medida pela extensão física; mas pela intensidade.

Ao Vereador Cyro Martini nesta homenagem, quero lembrar-lhe o que disse J. J Rousseau: "que a trombeta do juízo final soe quando quiser; eu virei com este livro na mão, apresentar-me-ei diante do soberano juiz, direi então: eis o que fiz, eis o que pensei, eis o que fui.

Para finalizar, julgo oportuno, prestar uma homenagem à minha mulher, companheira culta, incentivadora de todas as horas, com quem reparti: lutas, sofrimentos e angústias; também alegrias, na construção de nossa família e de nossas realizações.

A ela hoje digo: todas as coisas na vida, mesmo as mais tristes e difíceis concorrem para nossa grandeza.

Senhores, foi pouco tudo o que fizemos se a caminhada não foi mais longa e proveitosa, a culpa não cabe por inteiro a quem as empreendeu.

É que faltaram horas ao tempo e fôlego ao caminhante. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: No encerramento da Sessão, quero particularmente, manifestar o meu agradecimento pelas palavras bondosas do Dr. Gatti com relação a minha pessoa. Não sei se faço jus a elas, todavia fico, sem dúvida, emocionado e agradecido. Mas renovo, de outra parte, a manifestação desta Casa no sentido de deixar consignado nos Anais de que ela se sente honrada ao prestar esta homenagem ao Dr. Gatti e a sua família. Sente-se honrada porque, sem dúvida a presença do Dr. Gatti aqui, a sua declaração como Cidadão Emérito de Porto Alegre, sem dúvida, abrilhanta-a, torna-a mais rica, dão a ela um destaque extraordinário. Figuras como a do Dr. Gatti são raras, são pedras preciosas que nós temos que trazer para cá, temos que mostrá-las como exemplo dignificante e marcante, que os nossos concidadãos devem olhar e devem apontar para os seus filhos, para as crianças e para os jovens. Nós todos, porto-alegrenses, viemos, na grande maioria, de origens humildes, simples, mas, aos poucos, vamos construindo uma sociedade melhor. E é isso que nós, homens públicos queremos. Nós queremos ver Porto Alegre, o Rio Grande, o Brasil, todo ele engrandecido com gente capaz, com gente que tenha, realmente, as condições mínimas de dignidade para viver, para conviver, para criar os seus filhos. Isso tudo nós queremos, e temos certeza que aos poucos vamos construindo; sempre estamos à procura de um futuro melhor, e ele tem sido cada vez melhor em relação ao passado. E, sabemos que temos essa missão voltada para diante, que é de entregar para os nossos um futuro melhor. E, este exemplo está aqui na figura impoluta, destacada do Dr. Gatti.

Muito obrigado pela atenção, pela presença dos Senhores, das autoridades que vieram aqui prestigiar esta Casa. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Levanta-se a Sessão às 18h15min.)

 

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